Eu preciso me fazer esta pergunta: procuro verdadeiramente ir
a Deus através do sangue, ou me confio em qualquer outra coisa? O que entendo
quando digo: "através do sangue"? Quero dizer, simplesmente, que eu
reconheço os meus pecados, que necessito purificação e expiação, e que me
aproximo de Deus apoiando-me só em seus méritos, e nunca confiando nas minhas
próprias forças. Nunca, por exemplo, fundando-me no fato de ter sido
particularmente amável ou paciente durante o dia, ou de ter feito qualquer
coisa pelo Senhor nesta manhã. Devo me aproximar de Deus sempre pela via do
sangue de seu Filho. A tentação, para muitos de nós, quando queremos nos achegar
a Deus, é a de pensar que, já que Deus tem agido em nós, nos fez conhecer
alguma coisa de mais sobre Ele e nos abriu os olhos acerca de lições mais
profundas a respeito da Cruz, tem colocado assim diante de nós novas normas de
vida, e que somente nos submetendo a elas poderemos ter uma consciência pura
diante dEle.
Não! Uma consciência pura não está nunca baseada sobre uma
vitória que tenhamos conseguido; ela só pode ser estabelecida sobre a obra que
o Senhor Jesus cumpriu vertendo o seu sangue.
Posso errar, mas tenho a impressão muito forte que alguns de
nós temos, às vezes, sentimentos como estes: "Hoje eu fui mais amável;
hoje eu agi melhor; esta manhã li a Palavra de Deus de forma mais recolhida,
então posso orar melhor!", ou, ainda: "Hoje eu tive algumas
dificuldades com a minha família, comecei o dia de péssimo humor, sem jeito, e
agora não me sinto tão cômodo assim; parece que alguma coisa não está indo bem;
não posso, porém, me aproximar de Deus".
Qual é, afinal, a base sobre a qual vocês se aproximam de
Deus? Vão a Ele sobre o fundamento incerto dos seus sentimentos, pensando que
hoje conseguiram fazer alguma coisa para Ele? Ou vocês se apóiam sobre um
fundamento muito mais seguro, ou seja, sobre o fato que o sangue foi vertido e
que, vendo esse sangue, Deus está satisfeito? Naturalmente, se tivesse sido
possível conceber que a virtude do sangue pudesse ser mudada, a base sobre a
qual nos aproximamos de Deus seria menos digna de confiança. Porém, a virtude
do sangue nunca mudou e nunca mudará. Podemos, então, nos achegar sempre a Deus
com certeza, e esta segurança a obtemos através do sangue, e nunca pelos nossos
méritos pessoais. Qualquer seja a medida dos nossos méritos de hoje, de ontem
ou de anteontem, apenas nos chegamos com plena consciência ao lugar três vezes
santo, é preciso imediatamente que nos apoiemos sobre o terreno seguro e único
do sangue vertido. Se o nosso dia foi bom ou ruim, se pecamos a sabendas ou
não, o fundamento sobre o qual nos aproximamos a Deus é o mesmo: o sangue de
Cristo. O fato de este sangue ser agradável a Deus permanece a única base sobre
a qual podemos entrar em sua presença; não existem outras.
Como em muitas outras etapas da nossa experiência cristã,
este fato do acesso a Deus se compõe de duas fases, uma inicial e uma
sucessiva. A primeira está representada em Efésios 2, e a segunda em Hebreus
10. No início, a nossa posição diante de Deus é assegurada pelo sangue, porque
nós fomos "aproximados pelo sangue de Cristo" (Ef 2:13). E
imediatamente a base do nosso contínuo acesso a Deus subsiste ainda no sangue;
portanto o apóstolo nos exorta assim: "Tendo, pois, irmãos, ousadia
para entrar no santuário, pelo sangue de Jesus, (...) Cheguemo-nos"
(Hb 10:19,22). Para começar fui re-aproximado pelo sangue, e a continuação,
nesta nova relação com Deus devo sempre recorrer ao sangue. Não que eu tenha
sido salvado sobre uma certa base e que depois mantenha a minha comunhão com
Deus sobre uma outra base. Vocês dirão: "Isto é muito simples; é o ABC do
Evangelho". Sim, porém é um fato que muitos de nós nos temos distanciado
deste ABC. Temos pensado de ter feito progressos e de tê-lo assim superado, mas
nunca poderemos fazer isto. Não, eu me aproximei de Deus a primeira vez através
do sangue, e a cada vez que me apresento a Ele é pelo mesmo meio. Até o fim
será assim, sempre e unicamente sobre a base do sangue de Cristo.
Isto não significa de maneira alguma que devamos viver uma
vida despreocupada. Porém de
momento, contentemo-nos com o sangue que está conosco e nos é suficiente.
Podemos ser fracos, mas considerando a nossa debilidade não ficaremos mais
fortes. Nem também não tentando de sentir a nossa miséria e fazendo penitência
nos tornaremos mais santos. Não encontraremos nenhuma ajuda neste sentido.
Tenhamos então a coragem de encostar-nos em Deus confiando no sangue, e
digamos: "Senhor, eu não conheço bem o valor do sangue, mas sei que o
sangue tem Te satisfeito, portanto, o sangue me basta, e é o meu único refúgio.
Vejo agora que, tenha eu realizados progressos ou não, tenha eu melhorado ou
não, não posso nunca me apresentar diante de Ti senão sobre o fundamento do
precioso sangue". Então, a nossa consciência ficará verdadeiramente livre
diante de Deus. nenhuma consciência poderá nunca ser purificada fora do sangue.
É o sangue que nos dá segurança diante de Deus; "De outra maneira,
teriam deixado de se oferecer, porque, purificados uma vez os ministrantes, nunca
mais teriam consciência de pecado", esta é a poderosa expressão de
Hebreus 10:2. Somos purificados de cada pecado; podemos fazer eco com Paulo às
palavras de Davi: "Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não imputa o
pecado" (Romanos 4:8).
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