Os primeiros quatro capítulos e meio de Romanos falam de fé, fé e fé. Somos justificados pela fé nEle (Rm 3:28; 5:1). A justificação, o perdão dos nossos pecados e a paz com Deus são nossos pela fé, e, sem fé na obra consumada de Jesus Cristo, ninguém pode possuí-los. Na segunda seção de Romanos, no entanto, não encontramos a fé mencionada tantas vezes, e, à primeira vista, poderia parecer que aqui há diferença de ênfase. Não é realmente assim, porque a expressão "considera-se" toma o lugar das palavras "fé" e "crer". Considerar-se e a fé são, aqui, praticamente a mesma coisa.
O que é fé? É a minha aceitação de fatos divinos, e seu fundamento sempre se acha no passado. O que se relaciona com o futuro é mais esperança do que fé, embora muitas vezes a fé tenha seu objetivo ou alvo no futuro, como em Hebreus 11. Talvez seja por essa razão que a palavra aqui escolhida é considerar-se. É uma palavra que se relaciona unicamente com o passado - com aquilo que vemos já realizado ao olhar para trás - e não com qualquer coisa ainda por acontecer. É esse o gênero de fé descrito em Marcos 11:24: "Tudo quanto em oração pedirdes, crede que recebestes, e será assim convosco". A declaração é que se crer que já recebeu o que pediu (isto é, evidentemente, em Cristo), então "será assim". Crer que você possa alcançar alguma coisa, e que pode obtê-la, ou mesmo que ainda irá obtê-la, não é fé no sentido aqui expresso. Fé é crer que já alcançou o que pede. Somente o que se relaciona com o passado é fé nesse sentido. Aqueles que dizem que "Deus pode", ou que "Pode ser que Deus o faça" ou que "Deus deve fazer" ou que "Deus fará", não crêem de forma alguma. A fé sempre diz: "Deus já fez".
Quando é, portanto, que tenho fé no que diz respeito à minha crucificação? Não quando digo que Deus pode ou quer ou deve crucificar-me, mas quando, com alegria, digo: "Graças a Deus: em Cristo estou crucificado!"
Em Romanos 3, vemos o Senhor Jesus levando sobre Si nossos pecados e morrendo como nosso Substituto para que pudéssemos ser perdoados. Em Romanos 6, vemo-nos incluídos na morte de Cristo, por meio da qual Ele alcançou nossa libertação. Quando nos foi revelado o primeiro fato, cremos nEle para a justificação. Deus nos manda considerar o segundo fato para a nossa libertação. De modo que, para fins práticos, "considerar-se" na segunda seção de Romanos toma o lugar de "fé" na primeira seção. Não há diferença de ênfase; a vida cristã normal é vivida progressivamente, do mesmo modo que inicialmente se entra nela pela fé no fato divino: em Cristo e Sua cruz.
Extraído do livro: A vida cristã normal.
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