O sangue foi vertido pela expiação e é ligado à nossa posição
diante de Deus. Para não cair sob juízo, precisamos do perdão pelos pecados que
temos cometido, e os nossos pecados nos são perdoados não porque Deus feche
seus olhos ao mal que temos cometido, mas porque Ele vê o sangue do Seu Filho.
O sangue não é, então, primariamente "para nós" mas "para
Deus". Se eu desejo conhecer o valor do sangue para mim, devo aceitar tudo
aquilo que ele significa para Deus; se eu não conheço o valor que o sangue tem
para Deus, não conhecerei nunca o valor que ele tem para mim. Somente quando o
Espírito Santo tenha me revelado o preço que Deus atribui ao sangue de Cristo,
penetrará em mim o benefício de sua virtude e compreenderei o seu precioso
valor para mim. Mas o primeiro aspecto do sangue é para Deus. Na Antiga e na
Nova Aliança, a palavra "sangue", usada em conexão com a ideia de
expiação, é adotada mais de cem vezes, e é sempre apresentada como de grande
valor diante de Deus.
Existe no calendário do Antigo Testamento um dia que se
encontra em estreita relação com o argumento dos nossos pecados: é o Dia da
Expiação. Nada explica este problema dos pecados tão bem quanto a descrição
deste dia. No capítulo 16 de Levítico lemos que, no Dia da Expiação, o sangue
era tomado das ofertas pelos pecados e levado no Lugar Santíssimo para ser
aspergido sete vezes diante do Eterno. É necessário compreender isto muito
claramente. Naquele dia, o sacrifício pelos pecados era oferecido publicamente
no átrio do Tabernáculo. Tudo era feito abertamente e podia ser visto por
todos. Mas o Senhor tinha ordenado severamente que ninguém entrasse no
Tabernáculo, a exceção do Sumo Sacerdote. Ele só tomava o sangue depois de ter
entrado no Lugar Santíssimo e realizava a aspersão diante do Senhor. Por quê? Porque
ele era figura do Senhor Jesus em sua obra redentora: "Mas, vindo
Cristo, o sumo sacerdote dos bens futuros, por um maior e mais perfeito
tabernáculo, não feito por mãos, isto é, não desta criação, nem por sangue de
bodes e bezerros, mas por seu próprio sangue, entrou uma vez no santuário,
havendo efetuado uma eterna redenção" (Hb 9:11-12). Assim sendo,
ninguém senão o Sumo Sacerdote podia se aproximar e penetrar no Santuário. Além
disso, ele entrava para cumprir um único gesto: apresentar a Deus o sangue como
uma oferta aceitável, na qual Deus podia ter satisfação. Era uma transação
entre o Sumo Sacerdote e Deus no segredo do Lugar Santíssimo, longe dos olhares
dos homens que deviam resultar beneficiados. O Senhor o requeria assim. O
sangue é, então, o primeiro lugar não "para nós", mas "para
Ele". Já antes achamos descrita a efusão do sangue do cordeiro pascoal no
Egito para o resgate de Israel. "E aquele sangue vos será por sinal nas
casas em que estiverdes; vendo Eu sangue, passarei por cima de vós, e não
haverá entre vós praga de mortandade, quando Eu ferir a terra do Egito"
(Êx 12:13). Aquela é ainda, penso, uma das figuras mais clara da nossa
redenção que possamos achar no Antigo Testamento. O sangue era colocado sobre
as ombreiras e na verga das portas, enquanto o carne dos cordeiros era comido
no interior das casas. E Deus disse: "vendo Eu sangue, passarei por
cima de vós".
Temos aqui uma outra ilustração do fato que o sangue não deve
ser apresentado ao homem, mas a Deus, porque o sangue era colocado no exterior
da casa e aqueles que celebravam a festa no interior não podiam vê-lo.
Extraído do livro: A verdadeira vida Cristã
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