Porque, como pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores, assim pela obediência de um muitos serão feitos justos (Rm 5:19).
O Espírito de Deus procura aqui nos mostrar,
em primeiro lugar, o que somos, e depois como chegamos a ser o que somos. No
começo da nossa vida cristã, ficamos preocupados com o que fazemos, e não com o
que somos; sentimo-nos mais tristes pelo que temos feito, do que pelo que
somos. Pensamos que, se pudéssemos retificar certas coisas, seríamos bons
cristãos, e então, procuramos modificar as nossas ações. Os resultados, porém,
não são o que esperávamos. Descobrimos, com grande espanto, que se trata de
algo mais do que apenas certas dificuldades externas — que realmente há no
íntimo um problema mais sério. Procuramos agradar ao Senhor, descobrimos, porém,
que há algo dentro de nós que não deseja agradar-Lhe. Procuramos ser humildes,
mas há algo em nosso próprio-eu que se recusa a ser humilde. Procuramos demonstrar
afeto, mas não sentimos ternura no íntimo. Sorrimos e procuramos parecer muito
amáveis, mas no íntimo sentimos absoluta falta de amabilidade. Quanto mais
procuramos corrigir as coisas na parte exterior, tanto melhor entendemos quão
profundamente se arraigou o problema na parte interior. Então, chegamo-nos ao
Senhor, dizendo: "Senhor, agora compreendo! Não é só o que tenho feito que
está errado! Eu estou errado".
A conclusão de Romanos 5.19 começa a se tornar clara para
nós. Somos pecadores. Somos membros de uma raça que é, constitucionalmente,
diferente do que Deus intencionou que fosse. Por causa da queda, houve
fundamental transformação no caráter de Adão, em virtude do que se tornou
pecador, constitucionalmente incapaz de agradar a Deus e a semelhança familiar
que todos nós temos com ele não é meramente superficial — expressa-se também no
nosso caráter interior. Como aconteceu isto? "Pela desobediência de
um", diz Paulo.
A nossa vida vem de Adão. Onde estaria você agora, se o seu
bisavô tivesse morrido com três anos de idade? Teria morrido nele! A sua
experiência está unida à dele. A experiência de cada um de nós está unida à de
Adão da mesmíssima forma. Potencialmente, todos nós estávamos no Éden quando
Adão se rendeu às palavras da serpente. Todos estamos envolvidos no pecado de
Adão e, sendo nascidos "em Adão", recebemos dele tudo aquilo em que
ele se tornou, como resultado do seu pecado — quer dizer, a natureza de Adão,
que é a natureza do pecador. Derivamos dele a nossa existência, e, porque sua
vida se tornou pecaminosa, e pecaminosa a sua natureza, a natureza que dele
derivamos também é pecaminosa. De modo que o problema está na nossa
hereditariedade e não no nosso procedimento. A menos que possamos modificar o
nosso parentesco, não há livramento para nós.
Mas é precisamente neste ponto que encontraremos a solução do
nosso problema, porque foi exatamente assim que Deus encarou a situação.
Extraído do livro A vida cristã normal
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