terça-feira, 19 de janeiro de 2016

UM MUNDO SOB A ÁGUA [Parte II]

Há nas Escrituras outra passagem que coloca o batismo e a salvação juntos, para ilustrar o tema. Refiro-me ao capítulo 3 de 1 Pedro. Lá o apóstolo conta-nos como "a longanimidade de Deus aguardava nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca, na qual poucos, a saber, oito pessoas, foram salvas, através da água..." (vs. 20). A água, diz ele, é uma figura ou semelhança, ou (como dizem as notas da Revised Version inglesa) um antítipo de alguma outra coisa. "A qual, figurando o batismo, agora também vos salva". Assim o batismo, raciocina ele, salva-nos agora. Está claro que Pedro acreditava em nossa salvação através do batismo tão firmemente como acredi­tava na salvação de Noé através da água. Por favor, lembre-se de que não estou falando de regeneração, e nem estou dizendo libertação do inferno ou do pecado. En­tenda-se claramente que aqui estamos falando sobre sal­vação. Não é apenas uma questão de termos; diz respeito a sermos fundamentalmente separados do sistema mun­dial atual.
Para compreendermos melhor o que Pedro quer di­zer, deveremos retornar à sua fonte nos capítulos 6 a 8 de Gênesis. O quadro é ilustrativo. Ali encontramos nos dias de Noé um mundo totalmente corrupto. Criada pri­meiramente por Deus, a terra tornara-se corrupta pelo ato do homem, naquele dia em que este se colocou sob Satanás. O pecado, uma vez introduzido, desenvolveu-se e chegou ao excesso, até que o próprio Espírito Santo de Deus gritou "Basta!" As coisas haviam chegado a um ponto em que não podiam mais ser remediadas; só po­diam ser julgadas e removidas.
Assim, Deus ordenou a Noé que construísse uma ar­ca, e trouxesse sua família e as criaturas para dentro de­la, e então veio o dilúvio. Por ele foram "levantados aci­ma da terra" sobre águas que cobriam "todos os altos montes que havia debaixo do céu". Todas as coisas vivas, tanto homens como animais, pereceram e somente aque­les que flutuaram por sobre as águas foram salvos. O im­portante aqui não é apenas que eles escaparam à morte por afogamento. Isso não é o essencial. O essencial para nós é que eles foram as únicas pessoas a saírem daquele sistema corrupto de coisas, aquele mundo sob a água. Vida pessoal é a consequência inevitável de sair, e a perdi­ção pessoal a de ficar, porém salvação é a saída em si, não o efeito dela. Preste atenção a esta diferença, pois é grande. Salvação é essencialmente a saída agora de uma ordem condenada que pertence a Satanás.
Louvado seja Deus, eles saíram! Como? Através das águas. Assim, hoje em dia quando os crentes são batizados, passam simbolicamente através da água, do mesmo modo pelo qual Noé passou dentro da arca pelas águas do dilúvio. E esta passagem pelas águas significa sua fuga do mundo, sua saída do sistema de coisas que, como seu príncipe, está sob a sentença divina. Posso dizer isto es­pecialmente àqueles que estão sendo batizados hoje. Por favor, lembre-se, você não é o único que está na água. Quando você caminha para a água, um mundo inteiro desce com você. Quando sai das águas, você sai em Cris­to, na arca que flutua sobre as ondas, porém o seu mun­do fica para trás. Para você, aquele mundo está submer­so, afogado como o de Noé, morto na morte de Cristo e para não mais ser ressuscitado. É pelo batismo que você o declara. "Senhor, deixo para trás o meu mundo. Tua cruz separa-me dele para sempre!"
Falando de forma figurada, portanto, quando você passa através das águas do batismo, tudo o que pertencia à antiga ordem é cortado para nunca mais voltar, por aquelas águas. Só você emerge. Para você é uma passa­gem para um outro mundo, onde encontrará um pombo e as folhas verdes das oliveiras. Você sai do mundo que está sob julgamento, para um mundo que é marcado pela novidade da Vida Divina.
Quero novamente enfatizar que você não foi o único que desceu para as águas; seu mundo desceu com você, e ficou lá. Do ponto de vista de sua nova situação, você descobrirá que a água sempre cobre o mundo ao qual pertenceu antes. O mesmo dilúvio que salvou Noé e sua família afogou o mundo em que tinham vivido. Dessa forma, a mesma água por um lado co­loca você e eu na terra da salvação em Cristo, e por ou­tro, sepulta todo o sistema de coisas de Satanás. Não só sua própria história como filho de Adão termina no ba­tismo; o seu mundo também termina ali. Em ambos os casos, é uma morte e sepultamento sem qualquer ressur­reição. É o fim de tudo.
Isto significa que você não pode carregar nada da­quele antigo mundo para o novo. O que pertencia àquele reino anterior em Adão fica lá, e que jamais seja recorda­do. Pode ser que anteriormente você era empregado em uma loja, ou um criado em uma residência. Ou talvez vo­cê fosse o dono, gerente ou diretor de um negócio. Hoje, você pode continuar sendo o dono ou um criado, mas descobrirá que quando se trata de coisas divinas, quando se trata da Igreja e do serviço de Deus, não há escravo nem livre, nem empregador ou empregado. Você pode ser um judeu ou um gentio, ou uma centena de coisas que eram bem consideradas – ou mal consideradas – em Adão. Quando você passa através dessa água, todo aquele sistema de coisas desaparece, para não mais retornar. Ao invés delas, você vê a si próprio em Cristo, onde não há nem judeu nem grego, bárbaro ou cita nem qualquer outra coisa, mas um novo homem. Você entrou para uma ordem de coisas caracterizada por oliveiras e folhas de oliveiras, cujo segredo é a vida divina. A expressão "por meio da ressurreição de Jesus Cristo" dá colorido a todo futuro (1 Pe. 3:21). Significa que você passou para algo completamente novo que Deus está criando. De acordo com os comentaristas (Robert Young, Concordância Analítica da Bíblia Sagrada), o próprio nome Ararate significa "Terra Santa”. Seja como for, louvamos a Deus porque a arca que descansou sobre aquela terra renovada estava cheia de criaturas, tipificando uma nova criação. Da morte de Cristo, Deus traz à existência uma criação inteiramente nova, e em união com Cristo ressus­citado Ele está introduzindo o homem nela. Em Cristo, você e eu estamos lá!

Extraído do livro: Não Amais o Mundo

Nenhum comentário:

Postar um comentário